quarta-feira, 30 de maio de 2012

UM MOVIMENTO DE JOVENS PROTAGONISTAS



Nós que trabalhamos na formação costumamos dizer que os jovens de hoje são mais pragmáticos, individualistas, consumistas do que fomos. É como se a nossa geração fosse a geração dos belos ideais, da generosidade, da vontade de mudar o mundo, e a geração atual, uma geração mais voltada para si mesmo. Hoje eu tenho minhas dúvidas acerca disso.

Os jovens de hoje estão vivendo um outro momento histórico. O jovem, hoje, quando se engaja em algum movimento da Igreja não pretende mudar o mundo, mas mudar o mundo à sua volta. Eu, por exemplo, costumava querer salvar os mais empobrecidos, mas não arrumava a minha cama de manhã. Deixava para minha mãe arrumar. O jovem de hoje não é individualista, mas tem uma outra relação com a subjetividade, não tem uma relação conflitiva com a geração de adultos, ele prefere ignorar o que a geração adulta tem a dizer. Quando no movimento se oferece a oportunidade dele se envolver em ações concretas dentro do cotidiano para melhorar alguma coisa, esse jovem o faz com entusiasmo. Hoje vejo o jovem muito mais independente do mundo adulto, querendo realizar-se não através da transformação da história, mas no cotidiano.

Antigamente o jovem tinha grandes utopias de desfecho, era um mundo novo, o homem novo, a sociedade de sem classes. Hoje eu vejo o jovem com utopias de processo: ele quer fazer pequenas coisas que melhorem o mundo em sua volta, e não o mundo genérico, em função da história.

O protagonismo juvenil que eu vejo no Segue-me é uma forma superior de evangelização para a cidadania, não pelo discurso das palavras, mas pelo curso dos acontecimentos. É passar a mensagem do Cristo criando acontecimentos, onde o jovem ocupa uma posição de centralidade. O Evangelho não é um conceito, é uma prática, uma vivência. O protagonismo significa pastoralmente o jovem participar como ator principal em ações que não dizem respeito, em primeiro lugar, à sua vida privada, familiar, afetiva, mas com problemas relativos ao bem comum, na comunidade por exemplo. Outro aspecto do protagonismo juvenil no Segue-me é a concepção do jovem como fonte de iniciativa, que é ação; como fonte de liberdade, que é opção; e como fonte de compromisso, que é responsabilidade. Agora muitas vezes, nos diferentes grupos e pastorais da Igreja, se vende gato por lebre, apresentando formas de não-protagonismo com se protagonismo fosse. Há muitas vezes uma participação decorativa ou mesmo simbólica. Diz-se que terá a participação dos jovens em um evento, os jovens vão lá na abertura, cantam uma música e são colocados para escanteio. Isso é para dar beleza ao evento, é uma participação decorativa, eles não participam na fase substantiva do evento, sua participação é adjetiva.

O protagonismo autêntico é quando os jovens têm a oportunidade de participar primeiro da deliberação acerca da ação. Porque uma ação que é imposta não vai gerar protagonismo. Na raiz do protagonismo tem que haver uma opção livre do jovem, ele tem que participar na decisão se vai ou não fazer a ação. Segunda coisa: o jovem tem que participar do planejamento da ação. Depois o jovem tem que participar da execução da ação, na sua avaliação e na apropriação dos resultados. Existe um padrão de protagonismo no Segue-me, que é quando as pessoas do mundo adulto fazem junto com os jovens, que é o padrão da colaboração.

Tudo isso pode parecer meio teórico. Mas os caras do Segue-me estão verdadeiramente transformando vidas. Acho que está faltando por parte de nós formadores e agentes de pastoral uma outra concepção de juventude. Eu vejo emergindo no Segue-me e no protagonismo juvenil que esse movimento traz um outro padrão cultural, uma nova maneira de ver, entender e agir, que rompe com a retórica, com a prática da manipulação, da tutela. A tutela é você fazer um benefício para alguém, mas para fazê-lo você tem que incapacitá-lo. Os jovens são capazes de evangelizar. Temos de acreditar nisso. Já é tempo.






Junio Cesar Ferreira - Psicólogo, e Palestrante no Segue-me

Nenhum comentário :

Postar um comentário